A dupla francesa Sebastien Loeb / Daniel Elena em Citroën C4 WRC foram os grandes dominadores do Rally de Portugal, chegando no Domingo à tarde ao Estádio do Algarve com a 31ª vitória no mundial de ralis. Apesar de nas primeiras especiais Marcus Gronholm ter feito melhores cronos e ocupado a liderança, Loeb não o deixou fugir, e desferiu um ataque na parte da tarde da primeira etapa, subindo à liderança na última especial por pouco mais de 3 segundos. Na segunda etapa, uma escolha acertada de pneus frente à concorrência, o fez vencer todos as PE’s criando um fosso, que praticamente hipotecava as hipóteses dos adversários.
Marcus Gronholm chegou a Portugal na liderança do campeonato, e depois das diferenças para a Citroën (nomeadamente Loeb) no México sabia que precisava de atacar forte e cedo… e assim o fez. Entrou na Super Especial do Estádio do Algarve com toda a rapidez e, em confronto directo com Loeb venceu, tornando-se no primeiro líder do rali. Na sexta-feira conseguiu imprimir um andamento muito forte nas especiais da manhã, consolidando a liderança, mas já nada pode fazer quanto a Loeb no restante rali. Na segunda etapa duas escolhas erradas de pneus o fizeram atrasar mais, mas a distância que mantinha para o terceiro classificado Mikko Hirvonen era suficiente para não colocar em risco o intermédio do pódio (mas tudo veio a alterar mais tarde).
Mikko Hirvonen, que havia disputado os troços em 2005 e vencido na Noruega, foi apontando como favorito por muitos, mas não conseguiu acompanhar o ritmo dos mais rápidos. Foi constantemente terceiro classificado, e no segundo dia esteve numa luta muito interessante com Petter Solberg. Do piloto noruguês, a bordo do novo Subaru Impreza WRC 2007, esperava-se que se intrometesse na luta pela liderança, depois da exibição das primeiras etapas no México. Infelizmente, Petter não conseguia adquirir o ritmo de prova, e foram os pequenos erros, como têtes ou saídas de estrada, que o levaram a ceder tempo. Positivo o facto de finalizar a prova, e demonstrar a espaços que o carro é competitivo.
Dani Sordo praticamente rodou sozinho toda a prova. Contando com um forte apoio da comitiva espanhola, o segundo piloto da Citroën ficou muito aquém do esperado. Repetidamente foi “batido” pelos pilotos da frente, e ainda teve que se preocupar com Jari-Matti Latvala no final do rali. Pelo meio, o percalço com as portas do C4 a abrirem a meio de um troço. Para um piloto que participou nas duas últimas edições do Rali – em 2005 com o Citroën C2 S1600 e em 2006 com o Xsara como carro 0, era de esperar mais.
A Stobart não podia estar mais satisfeita com as exibições de Jari-Matti Latvala. Começou o rali com um toque na Super Especial que o atirou para a posição de último WRC, e na primeira especial de sexta-feira perdeu mais de 45 segundos quando ficou parado num gancho, devido a problemas no selector electrónico de mudanças, mas a partir daí fez uma prova de recuperação. Por três vezes entrou no top 3 em classificativas, e recuperou até ao 6º lugar final, chegando mesmo a ameaçar Sordo. Foi uma das agradáveis supresas (ou confirmações) do rali.
A Kronos Citroën teve uma prova com altos e baixos. Daniel Carlsson (vencedor da edição de 2005) foi o melhor classificado da equipa, acabando na sétima posição e encetou lutas muito interessantes com Latvala, Stohl e Henning, sendo esta última a mais intensa. Já Manfred Stohl “deitou tudo a perder” quando um despiste o fez atrasar mais de três minutos e atirou-o para fora do dos pontos, fechando o top 10.
Gigi Galli esteve muito aquém do esperado. Antes da prova havia revelado que iria ao ataque na esperança de obter uma boa classificação. Mas quando chegou à estrada os resultados não apareceram. Uma vez mais foi apontado o dedo aos pneus Pirelli, que não estava preparados para o piso (e ainda FIA quer a Pirelli como fornecedor único), e não foram raras as situações de furo, a última das quais na penúltima especial que destruiu o guarda-lamas lateral traseiro do Xsara WRC. O resultado foi melhor que a exibição e a oitava posição só era possível devido aos problemas de Henning Solberg na última especial de terra. Mas como não podia deixar de ser, criou muitos adeptos nas suas aparições nas Super Especiais. Na primeira SE, depois de brindar o público com uma exibição de drifting, recebeu uma ovação de pé quando saiu do carro e se colocou no tejadilho com a camisola da selecção portuguesa. No final do rali, repetiu a façanha, mas ainda usou uma bandeira portuguesa na antena do Xsara durante a SE.
Henning Solberg não levará certamente boas recordações da prova portuguesa. Foi claramente batido pelos principais adversários durante a primeira etapa, e só deu um “arzinho da sua graça” nos troços enlameados na segunda etapa, altura em chegou a ocupar a sétima posição. Mas a penultima especial, o Focus WRC deixou de colaborar, perdeu mais de três minutos e caiu na classificação geral.
Uma das maiores surpresas da prova foi a exibição de Andreas Mikkelsen, que com 17 anos, deu um verdadeiro recital de condução com o Ford Focus WRC 04. Andou sempre muito rápido, e foi exuberante conquistando a simpatia do público, e acima de tudo assinalando bons registos. Já agora fica a curiosidade que nas ligações quem conduzia a viatura era o navegador.
Finalmente, Matthew Wilson finalizou uma prova sem usar o Super Rally. O piloto britânico da Stobart foi protagonista de uma das lutas mais interessantes do rali, que o opunha ao português Armindo Araújo. Uma primeira etapa muito pausada, com um ritmo “adormecedor” deixou-o a mais de 40 segundos do Mitsubishi Lancer WRC “tuga”. Foi gradualmente recuperando tempo, até entrar para a última especial de terra com uma desvantagem de 3,3 segundos. Atacou forte e nos intermédios parciais já havia recuperado a posição. O despiste de Armindo no final acabou com a luta, com vantagem para Wilson. A exibição deste piloto no Estádio do Algarve foi uma nulidade, no que fica a certeza que se Armindo tivesse continuado recuperava a posição perdida.
Gareth MacHale foi sucessivamente o piloto menos rápido dos WRC’s, e os seu momento alto foi quando derrotou Armindo Araújo na manga da primeira SE. Ainda serviu de referência, aos espectadores que controlavam os tempos, quando abriu os troços da primeira e segunda etapa, e pouco mais que isso.
Armindo Araújo teve uma prova pouco feliz. Todas as atenções viraram-se para o piloto português, que durante a prova. teve momentos muito interessantes, contrastando com momentos menos felizes. O abandono, devido a um despiste, a dois quilómetros do fim (da penultima especial), quando vinha a perder uma posição para Matthew Wilson provavelmente ficará na memória de todos.
A única baixa de vulto entre os oficiais, foi a de Chris Atkinson, em Subaru Impreza. O piloto australiano despistou-se no mesmo local de Manfred Stohl e Armindo Araújo, mas teve menos sorte, uma vez que a viatura ficou com muitos estragos, e numa localização inferior à estrada. Apesar da equipa tentar recuperar o carro para o dia seguinte, tal não foi feito em tempo útil, e o abandono foi inevitável. Na altura protagonizava uma luta interessante com Latvala, Stohl e Carlsson pela sexta posição.
Nota à excelente prestação de Jan Kopecky, que com o pequeno Fabia WRC que chegou a efectuar alguns cronos de destaque na segunda e terceira especial. Não fosse o abandono no ínicio da primeira etapa era um piloto a ter em conta para os pontos. Guy Wilks e Mads Ostberg protagonizaram algum espectáculo mas abandonaram, ambos por despiste.
No entanto, a surpresa das surpresas chegou no final da prova, após as verificação técnicas, o Colégio de Comissários Desportivos decidiu aplicar cinco minutos de penalização a todos os concorrentes com Ford Focus WRC 06, por irregularidades na espessura do óculo dos vidros laterais traseiros. Assim, ao tempo de Gronholm, Hirvonen, Latvala, Henning Solberg e Gareth MacHale foram somados cinco minutos e assistiram-se a mudanças na classificação final.
A vitória não escapou a Loeb, mas Solberg subiu à segunda posição, Daniel Sordo ao terceiro lugar. Marcus Gronholm e Mikko Hirvonen desceram para a quarta e quinta posições, Daniel Carlsson subiu a sexto e Gigi Galli a sétimo. Jari-Matti Latvala desce para a oitava posição, e Henning Solberg para décimo primeiro,permitindo que Manfred Stohl subisse a nono e que Andreas Mikkelsen fechasse o top ten.
Com estas mudanças de última hora, Sebastien Loeb assumiu a liderança do mundial de pilotos, com um ponto de vantagem sobre Marcus Gronholm e oito sobre Hirvonen. No mundial de marcas, a Citroën reduziu a diferença para a oito pontos a diferença em relação à Ford.
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