O Mundial chegou a meio, Marcus Gronholm venceu pela terceira vez na época, segunda consecutiva e segunda consecutiva também na Grécia, dilatando a vantagem sobre Loeb no Campeonato para nove pontos. Tudo números que trazem, para já, justiça à competição.
Nada a dizer sobre a inteira justiça do triunfo de Gronholm. Chegou ao comando definitivo quando deixou de ser penalizado por abrir a estrada, fechou a primeira etapa cerca de 10 segundos à frente dos principais rivais e praticamente resolveu a questão logo a abrir a segunda, dando o golpe de misericórdia pouco depois. De nada adianta dizer que Loeb furou nas duas passagens Agii Theodori (48,88 km) ou que Solberg teve problemas com os amortecedores do Impreza. Tanto um como outro iam atrás do prejuízo, correndo mais riscos do que o finlandês, porque tinham de ser mais rápidos do que ele para poderem chegar ao comando.
E não foram. De nada adianta sequer tentarem invocar que sem problemas na grande especial a história poderia ter sido outra, porque as características da grande especial fazem parte da história da prova. Pelos vistos com a robustez de outros tempos recuperada – que fazia da Ford, na era de Carlos Sainz e Colin McRae, dona e senhora da Acrópole -, Gronholm decidiu atacar em Agii Theodori, uma das maiores classificativas do calendário e sem dúvida a mais dura. Mesmo sem certezas, olhando para trás, fica a clara ideia de que foi essa a estratégia... e pagou dividendos.O finlandês sabia que podia contar com o Focus e não teve medo do acidentado do terreno, voando pelas pedras e pelos charcos. Os dois principais rivais na gravilha helénica tentaram fazer o mesmo, mas, ou porque o C4 e o Impreza não são tão robustos ou porque os pilotos cometeram erros, ambos sofreram com a dureza do caminho. Loeb furou nas duas passagens, mais notado na segunda, em que isso aconteceu a oito quilómetros do fim e lhe custou quase 30 segundos para o homem da Ford; e Solberg danificou os amortecedores, perdendo mais de 20 também na segunda passagem, quando já ambos tinham cedido cerca de 10 na primeira.
Estava resolvida a questão e Gronholm entrou logo nos mind games – tão à maneira do nosso Mourinho -, dizendo que vai descansado para férias e que Loeb agora já não se deve sentir tão confortável. E se é verdade que o resto do calendário até é favorável ao francês, também é certo que a próxima prova é nos domínios de Gronholm e, se ele a vencer, fica 11 pontos à frente (partindo do princípio que Loeb é segundo), com sete ralis para disputar. Sempre partindo do princípio que os dois primeiros lugares são repartidos entre ambos – é muito «se», mas tanto uma equipa como outra já pensaram nisso de certeza - , a vitória em todas as restantes rondas daria ao piloto da Citroën um diferencial de 14 pontos, o que não lhe deixa margem de erro para que dependa apenas de si. Como diz o outro, parecendo que não, ajuda... à motivação do finlandês e à preocupação do francês.
Mas saindo do campo das suposições e regressando ao rali, depois do atraso em Agii Theodori 2, que o deixou em terceiro, a cerca de 10 segundos de Solberg, Loeb redefiniu a estratégia, foi o primeiro a reconhecê-lo, e passou a olhar apenas para o norueguês, porque é melhor fazer oito pontos do que nenhum... Se bem o pensou, melhor o fez e chegou com facilidade ao lugar intermédio do pódio ainda na segunda etapa, beneficiando para isso também dos problemas de amortecedores do Impreza. O derradeiro dia foi a controlar para todos.
Quanto a Solberg, fez uma grande prova, andou a discutir a liderança, depois o segundo posto e nunca foi incomodado na terceira posição. Ao Subaru, «ainda falta um bocadinho assim» (já que estamos em maré de referências publicitárias), mas tem vindo a melhorar progressivamente e talvez até possa vir a baralhar um pouco as contas do título, pelo menos, é isso que se deseja.Aliás, isso ficou bem demonstrado também por Chris Atkinson: ganhou classificativas, algo que não acontecia desde o México, e andou à frente do rali durante algum tempo no primeiro dia. Depois, um furo na fatídica Agii Theodori 1 (Gronholm discorda do adjectivo, certamente) deixou-o fora da luta pelos quatro primeiros lugares e em seguida viria a sofrer também de problemas de amortecedores e ainda de transmissão, que o fizeram perder igualmente o «barco» do quinto lugar a favor de Henning Solberg. Este, por sua vez, fez mais uma boa prova, depois de ter sido vítima de alguns furos no primeiro dia.
Quase ficava por referir o quarto lugar de Mikko Hirvonen, num rali tão discreto que quase não se deu por ele. A inevitável Agii Theodori 1 deixou-o fora da luta pelo pódio e com um pára-brisas partido até à assistência, depois de uma incursão fora de estrada e contra os arbustos de cerca de 60 metros. Caiu mesmo para sexto, mas os azares de uns são a sorte de outros, pelo que o atraso de Atkinson e a desistência de Dani Sordo o deixaram na quarta posição, sem margem de manobra para tentar ir a terceiro e sem se vislumbrar qualquer hipótese de ataque atrás. Foi tranquilo, mas rápido, até à meta, contribuindo mais uma vez para o bom pecúlio da marca.
Jan Kopecky foi um justo sétimo classificado, igualando o melhor resultado com o Skoda Fabia (no Monte Carlo do ano passado) e pontuando pela terceira vez este ano. Fez tempos consistentemente entre os dez primeiros e nunca foi seriamente incomodado por Manfred Stohl, que foi oitavo. O Austríaco continua a rodar abaixo das expectativas, mas lá vai pontuando. Já pontos era algo que a Munchi’s ainda não tinha visto, mas o 11º lugar de Luís Perez Companc valeu-lhe o primeiro, já que a Skoda não pontua para as Marcas, tal como Guy Wilks (9º) e Matthew Wilson (10º).
Texto: José Gonçalves em Motor Online
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