O passado fim-de-semana dificilmente será esquecido por Armindo Araújo. Foi, sem sombra de dúvida, uma das mais dificeis passagens do piloto de Santo Tirso pelos ralis. A presença no Rali de Portugal, prova pontuável para o mundial, a bordo de um Mitsubishi Lancer WRC era motivo de sobra para empolgar todos os adeptos portugueses sobre uma potencial exibição que permitisse mostrar além fronteiras todo o valor do melhor piloto português de ralis da actualidade.
Desde muito cedo, todo a pressão exercida em cima da dupla Armindo Araújo/Miguel Ramalho era pouco saudável, e apesar de desmentida por elementos da equipa foi visível durante a toda a prova. O primeiro contacto com a viatura deu-se dias antes, nos troços do Azinhal (Castro Marim) e Martinlongo. Dois dias intensos de testes foram o possível antes de uma prova que se avizinhava díficil, pois a comparação com os demais concorrentes era inevitável.
Tal como a Lei de Murphy, se alguma coisa errada podia acontecer, aconteceu. O primeiro contacto com o grande público foi no shakedown. A primeira passagem foi fraca, na segunda fez um tête, com perda de muito tempo, e na terceira as coisas pioram. À passagem de uma zona rápida, nomeadamente após uma lomba, Armindo perdeu o controlo da viatura e colheu cinco indivíduos – quatro fotógrafos e um espectador, que estavam numa zona interdita. As primeiras indicações davam a existência de feridos graves, e foi mesmo referida a existência de um óbito, mas felizmente não passou do típico negativismo, diria mais alarmismo, português. Antes da prova começar, já o azar “batia à porta” de Armindo, correndo em casa, tinha um acidente no shakedown frente ao seu público, e com “os abutres” da comunicação social à espera de uma tragédia para esmifrar um ocorrência negativa. Resta dizer que registou o pior tempo, no shakedown, entre as viaturas WRC.
Recomposta a situação, tudo poderia compor-se na Super Especial de abertura da prova. Com o Estádio do Algarve, maioritariamente português, e torcendo por um resultado positivo (alguns apontavam como possível uma vitória em especial), Armindo tem como adversário Gareth MacHale, que teoricamente seria o concorrente mais acessível. Mas o impensável aconteceu, perdeu a manga, e apesar de ter um estádio de pé ovacionando-o, preferiu ficar dentro do carro sem se dignar a agradecer o reconhecimento colectivo da sua mais valia. Efectivamente, a sua atitude valeu alguns reparos dos espectadores, pois conseguiu unir os adeptos portugueses em torno de um apoio a um concorrente, e mostrou uma atitude prepotente e arrogante a mais de 20.000 adeptos.
A primeira etapa vai para a estrada e, cedo é possivel perceber que a luta seria com Matthew Wilson, não sendo de todo uma referência, é piloto com experiência, e tripula uma viatura oficial (apesar de ser um Stobart). A primeira etapa corre sem grandes sobressaltos e acaba com 40 segundos de vantagem sobre Wilson. Sem ser um resultado brilhante era de todo aceitável, e dentro do esperado.
Na segunda etapa, o facto marcante foi um despiste no ínicio do troço de Almodovar. Na mesma zona onde ficaram Chris Atkinson e Manfred Stohl, Armindo Araújo sofre uma saída de estrada, mas a sorte protege-o, e como num jogo de consolas, parece que carregou no “start” e o carro voltou para a pista. Infelizmente, as câmaras registaram o momento, e o grito que antecedeu o acidente pecorreu o mundo. A voz efeminada que o proferiu serviu de pretexto para motivo de chacota entre nacionais e estrangeiros.
À entrada para a última etapa, detinha alguma vantagem sobre Matthew Wilson, mas o piloto da Stobart rapidamente anulou a distância temporal que os separava. A última especial em terra ficaria marcada por um duelo luso-britânico. Mas tal não aconteceu. Um furo ter provocou o despiste do Mitsubishi Lancer WRC do português, quando faltavam apenas dois quilómetros para o fim da especial. O anúncio do abandono de Armindo até pareceu uma peta de 1 de Abril, e só mesmo quando deram pela falta do bólide à partida para a Super Especial do Estádio do Algarve é que a maioria dos adeptos acreditaram em tal infortúnio.
O sistema Super Rally até poderia ser usado, e com ele ficava no 14º lugar, e melhor representante luso. A Mitsubishi Portuguesa optou por não o fazer, afirmando que toda a envolvência, e a rapidez com que deveria ser posto o carro no Parque Fechado, não valeria o esforço.
Infelizmente, devido a um fim-de-semana menos conseguido, o valor de Armindo Araújo foi questionado e passava de “bestial a besta”. O piloto que coleccionou vitórias em todas as competições que participou desiludiu pela primeira vez os adeptos dos ralis.
Este ano, ainda faltam seis provas do Campeonato Mundial de Produção e com certeza voltará a elevar o seu brio em todas elas.
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