O Rali de Portugal ficou marcado pelos ínumeros casos de intervenção de elementos da organização e do Colégio de Comissários Desportivos. Desde o primeiro dia de verificações até ao fim do rali, foram vários os casos que foram suscitados, o que alterou a verdade desportiva da prova, e fez com que os resultados fosse ditados na secretaria e não na estrada.
Nas verificações técnicas que antecedem o rali foram averiguadas irregularidades em algumas viaturas, nomeadamente nos Mitsubishi Lancer EVO IX, sendo o caso mais mediático o de Ricardo Teodósio. Aparentemente, a viatura, um Lancer EVO IX que foi transformado a partir de um EVO VII, não tinha toda a estrutura em conformidade com a homologação da viatura base (IX). Alguns elementos afirmaram que caso o piloto não apresentasse justificação viável para o sucedido seria desclassificado – o que não foi necessário uma vez que abandonou com problemas mecânicos no início da primeira etapa.
O acidente de Armindo Araújo durante o Shakedown também levou à existência de um certo mal estar entre a entidade organizadora, elementos de comunicação social, e a FIA. Aparentemente a não existência de fitas sinalizadoras de Zona Interdita e a ausência de marshalls no local do acidente, defende o argumento de que não existia nada que impedisse a presença de elementos estranhos junto à berma da estrada. Como tal a FIA teve mão pesada e multou a organização em 50.000 euros.
Na primeira etapa, o piloto Toni Gardemeister em Mitsubishi Lancer WRC foi desclassificado, depois de ter perdido uma roda num acidente e, ter conduzido a viatura, em três rodas, de uma classificativa até à assistência. Numa atitude que parecia normal até ao ano passado, à luz da nova regulamentação, dá direito a desclassificação, e o finlandês foi o primeiro a sentir a intransigência da FIA.
Luís Cardoso também não guardará saudades do Rali de Portugal. Durante as verificações técnicas, Cardoso apresentou um rollbar sem certificado de homologação. Foi-lhe dado até às 19:30 da tarde de quinta-feira para que apresentasse o certificado, o que de facto aconteceu. No entanto, o delegado técnico da FIA ficou com dúvidas e requeriu o certificado orginal à DMSB na Alemanha, que só chegou na manhã de sexta-feira. Os dois desenhos dos certificados foram comparados, e foi apurado que o do piloto português apresentava alterações. Foi pedida a presença de Luís Cardoso no final da etapa para esclarecer as diferenças. Durante o rali, Luís Cardoso sofreu um acidente aparatoso, tendo como consquência uma passagem da navegadora Isabel Branco pelo hospital. Como ninguém apareceu, os comissários analisaram novamente os desenhos e concluiram que o piloto tinha emendado deliberadamente os desenhos do certificado de homologação, o que é um ofensa grave ao Código Desportivo Internacional. Então foi decidido suspender Luis Cardoso de todas as provas internacionais organizadas pela FIA até Dezembro de 2008. Dias depois a FPAK, sob recomendação, tomou medida semelhante.
No final da segunda etapa novo caso. A pesagem do Ford Focus WRC de Marcus Gronholm revelou que estava seis quilos abaixo do minimo permitido, o que sendo uma sanção grave dava direito a desclassificação. A equipa então argumentou que um acidente os fez perder parte da cobertura lateral da roda direita dianteira, e com ele o carro teria perdido peças que totalizavam o peso em falta. Esta tese era corroborada com fotos tiradas por Timo Rautiainen após o troço, que efectivamente demonstraram o ocorrido. Foi permitida então a passagem pela assistência com a reposição das peças, para após novas pesagem confirmar a tese defendida pela equipa oficial da Ford.
Mas não ficou por aqui, depois de finalizada a prova, e da cerimónia de entrega de prémios oficializada, heís que o Colégio de Comissários Deportivos volta a entrar em acção. Ao analisar os Ford Focus WRC oficiais de Gronholm e Hirvonen, que ocuparam na estrada o 2º e 3º lugares, verificam irregularidades na espessura dos óculos dos vidros traseiros. Aparentemente estes tinham menos 0.5 mm do que o regulamentar. Depois de verificados os restantes Focus WRC 06 (Latvala, Wilson, Henning e MacHale) foi possível constatar que todos eles tinham irregularidade semelhante. A todos os Focus WRC 06 foi atríbuida uma penalização de 5 minutos ao tempo final, o que alterou significamente a tabela classificativa. O argumento apresentado pelo CCD com o qual deu origem à penalização não aponta para alguma vantagem ou benefício do uso desses vidros, mas sim a constatação que existia um componente dos carros que não estava conforme o regulamento técnico.
Finalmente, e depois de uma prestação muito positiva, que culminou com a obtenção do lugar de melhor português, Rui Madeira viu-se desclassificado devido a uma irregularidade no turbo do Mitsubishi Lancer EVO IX. A viatura que era alugada à Vidal Racing não foi alterada pela equipa, e apesar de reconhecer que a irregularidade não alterava as prestações da viatura, o CCD optou pela exclusão do piloto de Almada. Vendo-se prejudicado por uma situação da qual nem tinha culpa nenhuma, o piloto decidiu apresentar a demissão dos cargos que exerce na FPAK, por se sentir injustiçado no referido caso.
Talvez seja altura de pensarem realmente nos ditos “farilhanços” que alguns concorrentes usam nas suas viaturas. Numa prova internacional, nada foi deixado ao acaso, e os casos sucederam-se todos os dias.
Enfim, trocas e baldrocas que nada dignificam os ralis.
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