Pelo segundo ano consecutivo a dupla italiana Giandomenico Basso / Mittia Dotta, em Fiat Punto S2000, alcançaram uma vitória sem contestação, conseguida com uma mistura de rapidez, espectáculo e regularidade. Tal como no ano passado, a primeira secção do rali foi deciviva. O tempo irregular, com alguma chuva e pisos molhados, permitiu que Basso e Travaglia se distanciassem dos demais, acumulando segundos de vantagem que deixou os restantes adversários fora da contenda pela vitória. No segundo dia, disputado sob melhores condições, solarengo e piso seco, permitiu que Basso desse a “machadada final” logo no primeiro troço, quando superiorizou-se a Travaglia por 20,6 segundos, acumulando uma distância significativa. Aliás, no segundo dia, Basso decidiu atacar nas primeiras especiais, mesmo quando já detinha uma vantagem na ordem do minuto, para controlar na secção final, rumo a uma vitória incontestável. Mas não se livrou de um valente susto, quando a caixa de velocidade do Punto decidiu não colaborar na quarta secção, levando a que a equipa optasse por mudar este orgão em apenas 12 minutos.
A segunda posição do rali “caiu no colo” de Bruno Magalhães (navegado por Paulo Grave), que assim se posicionou como melhor português. Depois de um início de prova aziago, com problemas na bobine do Peugeot 207 S2000, que o fez perder mais de dois minutos para os principais adversários, conseguiu fazer uma recuperação notável. No final do primeiro dia de competição (na estrada) conseguiu recuperar o tempo que o separava da principal referência nacional, José Pedro Fontes e, acabou na quarta posição. Na segunda etapa, entrou muito rápido, alcançando algumas vitórias em troços de classificação. No entanto, a distância que o separava dos “homens da frente” era significativa e muito dificilmente seria possível fazer melhor. Como a sorte protege os audazes, tal aconteceu com a equipa portuguesa. Primeiro o espanhol Enrique Garcia Ojeda penalizou mais de um minuto, perdendo toda a vantagem que detinha e, depois no final da prova, Renato Travaglia, que acabou na segunda posição, foi desclassificado devido a irregularidade no turbo do EVO IX. Depois de um início complicado, Bruno Magalhães acabou o rali com um excelente segundo lugar final.
A terceira posição ficou na posse da dupla espanhola Enrique Garcia Ojeda / Jordi Barrabés, que somou importantes pontos para o Intercontinental Rally Challenge (e não International como anteriormente por lapso referi), assumindo a liderança da competição. Mas poderia ser melhor, pois com o afastamento prematuro do anterior líder Andrea Navarra (problemas eléctricos), o espanhol tinha caminho aberto para atacar os pontos, sem preocupar com a estratégia da Fiat, que passava por usar Basso para benificiar Navarra. A primeira etapa correu sem grandes sobressaltos, acabando na terceira posição, fruto de regularidade e bons tempos, apesar de algo distante dos italianos que ocupavam as duas primeiras posições. A segunda etapa foi menos positiva, problemas com a caixa de velocidades do Peugeot 207 S2000, que levaram à sua substituição e à penalização de mais de um minuto. Sem conseguirem argumentos para conter os ataques de Bruno Magalhães, desceram à quarta posição, que mantiveram até final (insuficiente para alcançar a liderança do IRC). Após o final do rali, as coisas pioraram para os homens da Peugeot Espanha que estiveram sob o espectro da desclassificação, por assistência ilegal durante o rali, mas como não ficou provada a existência de irregularidades, a equipa apareceu na classificação final. Por outro lado, a notícia da desclassificação de Travaglia, veio “adoçar” o rali do espanhol, uma vez que subindo à terceira posição, atingia os principais objectivos, que passa pela liderança do IRC.
A dupla da Fiat Vodafone, José Pedro Fontes / Fernando Prata, ocuparam a quarta posição final, segunda entre os concorrentes nacionais, numa prova maioritariamente solitária. O piloto do Punto nacional não teve argumentos para Bruno Magalhães, e tal ficou comprovado no final da primeira etapa, quando o piloto da “marca do leão” chegou e ultrapassou com relativa facilidade Fontes. Depois, rodou sozinho durante o resto da prova, pois estava demasiado longe para atacar e ser atacado. O resultado é melhor do que a exibição, no entanto teve engenho e rapidez para chegar ao fim e somar importantes pontos para o nacional de ralis.
Logo atrás, assistiu-se a uma luta interessante entre o Peugeot de Bernd Casier e o Fiat Punto de Corrado Fontana. O piloto belga, representante das cores da Kronos, vinha referenciado como muito rápido, e capaz de protagonizar supresas (tal não aconteceu), chegou à entrada da segunda etapa na frente de Fontana, com uma vantagem de 20,1 segundos. No sábado, assistiu-se a um ataque interessante do italiano da Grifone, que a cada especial se superiorizava ao belga por escassa margem, mas que permitiu a ultrapassagem na especial do Rosário (penúltima do rali). Com naturalidade, Fontana superiorizava-se a Casier e à entrada da última especial tudo indicava que assim se manteria, tendo em conta os resultados do dia. Surpreendentemente, Fontana não conseguiu superiorizar-se a Casier, e o belga reconquistou a posição perdida anteriormente, fazendo melhor em 4,5 segundos, anulando a desvantagem à partida da PE de 2,1 segundos. Bernd Casier foi quinto, enquanto Corrado Fontana ficou com a sexta posição.
Simon Jean-Joseph, regressou à Madeira, com um Citroën C2 S1600 da Citroën Sport, com o favoritismo à classe, pois era o único concorrente da classe, que participava no IRC e ERC. Rodando sempre na frente do agrupamento de Turismo, e duas rodas motrizes, ficou um pouco aquém do esperado, pois as exibições no passado foram mais convicentes. A batalha que travou com Fontana no início da segunda etapa, e a resposta ao ataque de Camacho a meio do rali foram os momentos mais interessantes da prova do piloto da Martinica.
Alexandre Camacho teve uma prova exemplar e memorável, conotando-se na oitava posição com o título de melhor madeirense. Desde o primeiro momento empenhou-se ao máximo em obter um resultado positivo, com um andamento muito rápido, surpreendendo alguns concorrentes com viaturas superiores. Após os abandonos de Vitor Sá e Bernardo Sousa, a juntar ao atraso de Filipe Freitas, o piloto da Olca Team tinha caminho aberto para obter o lugar de melhor madeirense. A certos espaços ainda tentou chegar a Simon Jean-Joseph, mas a diferença averbada nas primeiras especias foi significativa, não deixando no entanto de averbar algums melhores tempos na classe.
Na nona posição apareceu o segundo piloto da Peugeot Espanha, Nicolas Vouilloz. Pela primeira vez na Madeira, era apontando como candidato à vitória, pois sua postura em prova é sempre muito agressiva. Mas o azar “bateu à porta” de Vouilloz, uma vez que a embraiagem do Peugeot 207 S2000 decidiu não colaborar, perdendo muito tempo nas primeiras especiais do ralis, e também penalizando na assistência aquando da sua substituição. Foram minutos preciosos que o relegaram para trás do pelotão. No segundo dia de prova, recuperou várias posições, ultrapassando de forma contundente os concorrentes que ocupavam posições cimeiras. O piloto francês foi um dos principais animadores da prova, venceu algumas provas de classificação e não fosse os problemas do 207, de certeza que disputaria um lugar no pódio. Se voltar à Madeira será potencial candidato à vitória.
A fechar o lote dos dez primeiros, aparecem Filipe Freitas e Daniel Figueiroa em Renault Clio S1600. Apostados em repetir os resultados das duas edições anteriores da prova, os madeirenses entraram ao ataque, e a meio da primeira classificativa já levavam a melhor sobre a demais concorrência. Mas ainda na classificativa do Santo da Serra um furo no Clio os fez perder algum tempo (mais de um 1m 30s) e baixar na classificação. Sabendo que muito dificilmente chegariam à posição de melhor madeirense, decidiram atacar e lutar pelos pontos para o regional madeirense. Aos poucos foram subindo na classificação, e sem grande surpresa chegaram à 10ª posição, acabando a prova a 1m 14s de Alexandre Camacho, na segunda posição entre os locais.
Com a desclassificação de Renato Travaglia, o melhor Grupo N convencional (não S2000) foi João Magalhães em Mitsubishi Lancer EVO IX, mas apesar de pontuar para o regional e nacional, e recolher os respectivos pontos, foi excluído das provas do IRC, e nem aparece na lista final da prova. Aparentemente, algumas irregularidade com as transformações dos EVO VII em EVO IX voltam a dar algumas dores de cabeça aos pilotos nacionais.
Entre os concorrentes que participaram na Madeira com S2000, a referir as prestações mais modestas de Volkan Isik e do italiano Marco Cavigioli. No caso do piloto turco, um furo na especial do Ribeiro Frio, que o obrigou à mudança de pneu em especial, atrasou-o consideravelmente: Mas também o facto de desconhecer o terreno e estar mais à vontade em pisos de terra contribuiram para o 13º lugar. No caso de Cavigioli, voltam a ser problemas com o Peugeot 207 S2000, durante o decorrer da primeira etapa que o atrasaram, mas mesmo com a viatura em condições não conseguiu demonstrar rapidez.
Finalmente, uma palavra para a prestação de Dani Solá em Honda Civic Type R, que venceu a classe A7. Apesar da viatura mostrar potencial e rapidez, ficou provado que a classe R3 ainda fica um pouco aquém dos restantes concorrentes. Durante o shakedown ficou a impressão que o Honda poderia lutar com os S1600, mas no terreno ficou demonstrado que ainda não está ao nível dessas viaturas. A espectacularidade e exuberância do piloto e viatura, fizeram criar empatia entre os adeptos presentes no local.
Foram muitos os abandonos registados nesta prova, e alguns deles decisivos nas pretensões de alguns concorrentes nos diversos campeonatos. Tendo em conta que a prova era do ERC e IRC, e apesar dos concorrentes poderem apresentar-se perante o regime de super rally, os mesmos não contam para a classificação final. As prestações dos concorrentes no super rally servem para as pontuações dos campeonatos obtidas diferenciadas pelos dois dias.
Andrea Navarra foi o primeiro azarado do rali. Antes de partir para a primeira especial de sexta feira (segunda especial do rali) o Fiat Punto S2000 recusou-se a pegar no Parque de Partida. Sem saberem o que se passava, a equipa abandonou. Mais tarde apurou que a bateria descarregou, e apenas isso estragou as pretensões do italiano da Abarth, até então líder do IRC. Disputou a primeira secção da segunda etapa, com o intuito de testar o seu andamento e afinações da viatura.
Estreante na Madeira, o belga Freddy Loix esteve aquém do esperado, juntando-se assim ao lote de “estrelas” que decepcionaram na prova madeirense. O piloto abandonou o rali na terceira especial com problemas no diferencial do Fiat Punto S2000, mas voltou para disputar a segunda etapa. Apenas com um crono digno de registo(Rosário 2), e um lugar na classificação individual da segunda etapa, é pouco para o piloto belga.
Dimitar Iliev chegou à Madeira como comandante do ERC, e com uma vitória do Rali da Bulgária. Chegava com pretensões a um resultado positivo, chegando a afirmar pretender lutar pela vitória, no entanto,após a quarta especial de classificação, a caixa de velocidades do Mitsubishi Lancer EVO IX cedeu, levando ao abandono.
O madeirense Vitor Sá teve uma prova para esquecer. Depois de partir o motor do Punto numa sessão de testes que antecedeu o rali, o piloto viu-se impossibilitado de participar no Shakedown, o que lhe valeu uma multa de 800 euros, tendo em conta ser prioritário. Depois de adquirir um motor à Fiat Abarth, Vitor Sá foi vítima de um despiste na segunda especial do rali – Santo da Serra, quando a viatura entrou em “aquaplaning” e embateu contra um muro, destruindo a parte frontal. O Punto ficou num estado irrecuperável (pelo menos para a segunda etapa) e viu os principais adversários colherem duas pontuações, e perder a liderança do regional madeirense.
Verdadeiramente irreconhecível esteve Fernando Peres. O piloto que acalentava uma prestação positiva, depois da vitória nos Açores e do 3º lugar na prova madeirense de 2006, começou com um toque no gancho da Fonte de Santo António, que segundo o próprio retirou toda a confiança na condução e na viatura. Sendo constantemente batido, pelos S2000 e pelos Mitsubishi’s “internacionais” e “regionais”, Peres abandonou com avaria mecânica na quarta especial.
Bernado Sousa, acompanhado por Paulo Babo, foi um dos principais intervinientes da prova. Contando com a assistência da Ralliart Portugal, o jovem piloto madeirense estreava na Madeira um Mitsubishi Lancer EVO IX novo, recentemente adquirido à Ralliart Italia. Com um andamento muito agressivo e espectacular, o madeirense ocupava o sétimo lugar da geral, o melhor entre os portugueses, quando um violento despisto na descida da Ribeira da Cales, após o Portão Sul do Chão da Lagoa colocou um ponto final à sua apresentação. Resta afirmar que foi mais um acidente, a juntar ao rol de despistes que já conta no curto historial.
O polaco Tomasz Czopik trouxe à Madeira um Fiat Punto S2000, com o qual disputa o ERC. Apesar de não rodar entre os primeiros da geral, encetou uma agradável disputa com o polaco Volkan Isik, pela décima posição, durante a primeira etapa. Abandonou na 14ª especial com problemas no carro italiano.
Quem certamente não esquecerá o Rali Vinho Madeira é Rocco Peduzzi. Na segunda passagem pelo troço dos Terreiros, o Mitsubishi Lancer EVO IX incendiou-se no topo do Chão da Lagoa, acabando com a prova do italiano. Este incidente também atrasou alguns concorrentes que seguiam atrás de si, e condicionou a prestação de Vítor Lopes. O piloto do C2 S1600 parou para auxiliar na extinção do incêndio, acabando por acumular muitos segundos no cronómetro. A solidariedade entre concorrentes falou mais alto. Depois de acumular tanto tempo, Vitor Lopes optou por abandonar o rali após a primeira etapa, por discordar da sua posição de saída para o segundo dia de prova.
Luca Betti com o Honda Civic Type R, também não completou a prova na totalidade, uma vez que um despiste na sexta especial promoveu o seu abandono. Usando o superrally deliciou os espectadores com passagens interessantes (exuberantes) na segunda etapa.
A prova foi interrompida uma vez, devido ao violento despiste da dupla Marco Nóbrega / Helder Nóbrega em Toyota Yaris, na passagem pelo Poiso durante aos Terreiros 2. Os concorrentes foram transportados a uma unidade hospitalar, apresentavam apenas alguns traumatismos menores, mas devido à violência do despiste, a organização optou por neutralizar essa especial, e verificar o estado dos intervinientes.
Para além destes concorrentes há a referir a desclassificação de Renato Travaglia em Mitsubishi Lancer EVO IX, devido a irregularidade com o turbo da viatura. Apesar de alguma contestação, a equipa optou por não apelar desta decisão. Caso o resultado fosse válido, Renato Travaglia assumiria o comando do europeu.
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