quarta-feira, setembro 19

Tributo a Colin McRae

São muitas as manifestações de pesar por toda a comunidade automobilistica, e de uma maneira geral por toda a comunidade. Sabendo da minha paixão por este desporto, algumas pessoas com quem conversei, completamente leigas sobre ralis, lamentaram o desaparecimento do escocês, e assim começo a compreender a verdadeira dimensão da sua grandeza. Colin chegou longe e afectou muitas pessoas durante a sua carreira.
Os tributos sucedem-se, em muitos sites, blogs, jornais, revistas e televisão. epois de ler, reler, ver alguns filmes, deixo uma dos tributos que acho mais completo e humano.
O texto é de José Luís Abreu e é retirado do site do AutoSport:
O escocês que viveu depressa demais
O desporto automóvel mundial está uma vez mais de luto. No passado sábado, cerca das 16 horas, Colin McRae, de 39 anos, perdeu a vida num acidente de helicóptero que o próprio pilotava. Como se sabe, com ele seguiam o seu filho mais novo, Jonhnny, de cinco anos, bem como Graeme Duncan e Ben Porcelli, amigos da familia. Nenhum dos ocupantes sobreviveu ao incêndio que consumiu o aparelho após a queda.
Recordar um mito
Tal como Henri Toivonen, também Colin McRae passou toda a sua vida a fintar a morte. Qualquer que fosse o carro, qualquer fosse o cenário, parecia guiar sempre como se fosse a sua última corrida. Dele diziam que era um sobredotado.
O sucesso chegou bem cedo, logo aos 13 anos. Ainda estudante, sagrou-se campeão escocês de motocross, para aos 16 se notabilizar nas provas de slalom. Seguindo as pisadas do pai, Jimmy McRae, cinco vezes campeão britânico de ralis, (81, 82, 84, 87 e 88), o jovem Colin não tardou em redireccionou a sua carreira para os automóveis, disputando o seu primeiro rali aos 17 anos (1986), então ao volante de um Talbot Avenger. Aos 20, conquista o seu primeiro título escocês de ralis.
O estilo de condução espectacular rapidamente se tornou na sua imagem de marca, ao ponto de chegar mesmo a ser comparado a Ari Vatanen, o piloto que idolatrava e a quem dizia ir buscar inspiração.
A primeira aparição no Campeonato do Mundo acontece em 1987, no Rali da Suécia, guiando um Vauxall Nova. Em 1991, junta-se à equipa Prodrive Subaru e bisa no campeonato britânico, dando provas do seu valor enquanto jovem piloto ao vencer todas as provas do calendário de 1992.
Em 1993, ao volante de um Subaru Legacy, assegura na Nova Zelândia a sua primeira de 25 vitórias no Mundial, ajudando a equipa a conquistar três títulos de construtores consecutivos (95, 96 e 97). O ano de 1995 é de glória, pois torna-se no primeiro britânico de sempre a garantir um título mundial de Pilotos. Mais tarde, assegura ainda três vice-campeonatos (96, 97 e 01), sendo terceiro em 1998, ano em que também venceu a Corrida dos Campeões.
Em 1999, muda-se para a equipa M-Sport e passa a guiar um Focus WRC, vencendo nessa temporada o Rali Safari e o Rali de Portugal, para em 2001 falhar por muito pouco aquele que seria o seu segundo título mundial. Em 2003, decide deixar a Ford e assina contrato com a promissora equipa da Citroen, mas sem contudo voltar a conhecer o sabor do sucesso. Quando a esperança de um regresso à Subaru se desfez - devido à entrada na equipa de Mikko Hirvonen -, decide voltar as costas aos ralis. Mas por pouco tempo…
Em 2004, regressa ao Rali de Gales/GB num Skoda Fabia WRC, sendo o sétimo classificado final. Depois, no Rali da Austrália, surpreende ao ser segundo. Falhado o regresso com a Skoda, é chamado em 2006 pela equipa Kronos Citroen para substituir o lesionado Sebastien Loeb no Rali da Turquia. Um problema no alternador deixa-o fora dos dez primeiros. Para Colin, terminavam ali as suas hipóteses de regressar em grande ao Mundial. Para trás ficavam 146 presenças em ralis do Campeonatos do Mundo, 42 subidas ao pódios e 25 vitórias, além de mais de 20 abandonos por acidente, o mais grave dos quais na Córsega, no ano de 2000.
Adepto do espectáculo
Privilegiando sempre a espectacularidade em detrimento de alguma eficácia, a popularidade de Colin McRae viria mesmo a inspirar um dos jogos de computador mais populares dos últimos anos, cuja primeira edição foi lançada na Grã-Bretanha em 1998.
Mesmo sem nunca ter anunciado oficialmente a sua retirada da competição, foi com alguma surpresa que se estreou nas 24 Horas de Le Mans e também no Dakar (2004 e 2005) ao serviço da equipa oficial da Nissan. Numa e noutra ocasião, foi obrigado a desistir prematuramente, ainda que depois de chegar a liderar e vencer quatro especiais. O ano de 2007 viu-o regressar uma vez mais ao todo-o-terreno. A convite de Grégoire de Mévius, veio a Portugal disputar o Rali Vodafone Transibérico numa Nissan Pick Up. Mesmo desistindo, a sua prestação convenceu Sven Quandt, não demorando a assinar um contrato com a X-Raid. A sua primeira aparição ao volante do BMW X3 aconteceu na Baja de Espanha, em Julho passado. Preparava-se agora para disputar o seu terceiro Dakar.
A carreira em números
Entre muito que se pode dizer relativamente à sua carreira, há dados que são bastante curiosos. Como se sabe, é o quarto piloto mais vitorioso de sempre, e apesar da sua morte, assim continuará por muitos e bons anos, já que dos pilotos que estão no activo ainda jovens, Mikko Hirvonen tem duas vitórias. À sua frente, os campeonissìmos Sébastien Loeb, com 33, Marcus Gronholm, com 30 e Carlos Sainz, com 26. Está para “nascer” ainda quem possa passar estes “monstros”.
Curiosamente, e para um piloto onde a rapidez era a imagem de marca, foi em provas duríssimas como a Grécia, que venceu por cinco vezes, ou o Safari, onde ganhou três vezes, que aproveitou para aumentar o seu currículo. Nessa lista, contam-se ainda três vitórias na Nova Zelândia, onde se estreou a vencer em 1993, e, claro, a Grã-Bretanha, a “sua” prova, que venceu, também, três vezes. O Rali de Portugal também teve a marca “McRae”, em 1998 (memorável luta com Sainz, a dos 2,1s) e 1999, já com a Ford.
Rali da Catalunha e Córsega perfazem as provas que venceu por duas vezes. As restantes vitórias tiveram lugar na Austrália, Argentina e Chipre. 16 das suas 25 vitórias foram com a Subaru, e as restantes nove com a Ford. Em termos de co-pilotos, venceu por 8 vezes ao lado de Derek Ringer e 17, com Nicky Grist. Só mais uma referência, esta muito particular de Colin McRae: das 58 vezes que desistiu, em 20% delas foi por…acidente.
Aqui ficam algumas declarações (antes da sua morte) de alguns dos seus grandes adversários e amigos, que não poupam adjectivos quando instados a falar sobre Colin McRae. Estes são só alguns exemplos, dos muitos que aqui poderiam ser colocados.
Nicky Grist: «Navegar o Colin McRae significava sempre retirar o máximo de adrenalina!»
Juha Kankkunen: «Sem sombra de dúvidas, para mim o Colin é o mais talentoso piloto de ralis de sempre»
Carlos Sainz: «Ele consegue ser mais rápido que todos os outros»
David Lapworth: «Ele guia sempre o carro o mais rápido que sabe. Tácticas não são com ele. Só há uma coisa em que pensa: Vencer!»
Luis Moya: «Sempre que íamos para uma prova, pensávamos, quem pode vencer aqui? O Colin estava sempre entre os nomes. É um fantástico talento....»
Tommi Makinen: «Sempre que corria contra ele sabia que tinha de dar sempre 150%, senão não havia nada a fazer.»
Malcolm Wilson: «Se chegasse a uma especial do fim duma prova e quem fosse mais rápido ganhava, eu poria sempre o meu dinheiro no Colin»
Nicky Grist: «Nenhum outro piloto conseguia pôr os espectadores em tal êxtase como o Colin quando passava. Mesmo que alguém tivesse desatento, percebia logo que era o Colin McRae.»
Até sempre, Colin!





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