O alerta amarelo soou este fim-de-semana em Martinlongo com a passagem do “Furacão Ritinha”, com uma exibição implacável que deixou todos os adversários temerosos do futuro negro que lhes espera. Agora a sério… o Rali de Martinlongo correu bem. O Zé Correia e a “Ritinha” portaram-se muito bem e ficou um resultado positivo, com uma exibição sóbria e inteligente. Como referi no dia do rali – “Não são precisas desculpas para os bons resultados”.
A ideia de dois dias de prova (reconhecimentos e verificações + prova cronometrada) aplicada pelo CAA em Martinlongo foi positiva. Apesar de acarretar custos mais elevados, pois em situação normal a equipa tem que pernoitar no local de prova, permite encarar o rali com mais calma e cautela.
Os reconhecimentos na tarde de Sábado foram algo complicados. As chuvas abundantes que se faziam sentir, deixaram os pisos escorregadios e as ribeiras, ou cursos de água, com caudais elevados. À passagem da Navara do Zé pelos troços, deixou a sensação de que andavamos sobre “manteiga”. Apanhamos alguns sustos, principalmente quando a viatura escorregava sem controlo, mas acima de tudo constatamos que a prova seria muito complicada, e que só o facto de manter a viatura dentro de estrada se tornaria numa vitória.
Durante a noite, não parou de chover. Mesmo com um sono “muito leve”, deu para retemperar as forças. Confesso que não me sentia tentado em fazer a prova. As condições meteorológicas, do terreno, e o receio de que algo corresse mal me passavam pela cabeça. Por outro lado… era um rali, e “ralizar” é sempre fenomenal.
O atraso na atribuição dos admitidos à prova, e consequentemente o adiamento da partida, fez com que os concorrentes colocassem a possibilidade da mesma não se realizar: Nas questões de segurança, existiam algumas lacunas que podiam ser decisivas. Por exemplo, dificilmente uma ambulância conseguia entrar no troço para socorrer um caso de emergência. O mesmo se passava com veículos reboques, se fossem necessários para desempanar algum concorrente. Um acidente grave podia manchar a prova.
Em boa hora, o CAA decidiu avançar: Na primeira especial a estratégia passava por “apalpar terreno”. Verificar as condições do piso e as reacções do BMW para perceber quais seriam os principais objectivos. Antes da prova eram divertir o máximo, e entrar nos 15 primeiros. Gradualmente foi percéptivel que existia aderência e tracção, e com algum jeitinho, e com a dose certa de rapidez, andavamos para a frente. À passagem da primeira ribeira, a primeira vítima – Paté, com o Peugeot campeão. Depois o Nuno Pinto, e mais à frente o EVO IV do Neves fora de estrada vítima de despiste. Primeiro troço cumprido, com maior ou menor dificuldade… vamos ao segundo. As condições pioraram, pois alguma chuva, e acima de tudo os vidros embaciados me deixaram um pouco atrapalhado. Mas a primeira ronda correu bem, e na assistência percebemos que a prova estava a correr de feição.
Segunda ronda: Mais à vontade, o Zé arriscou e bem. Com eficácia e, principalmente diversão, conseguimos retirar quase 30 segundos à primeira especial. No controlo de chegada, o insólito de encontrar o Arroja, deitado em cima do motor do 205, a regular o acelerador… (aqueles rapazes precisam de ir à bruxa).
Ultimo troço, e começava com uma chuvada valente. Tendo em conta que os 4 concorrentes que nos precediam tinham abandonado, ficaram 10 minutos intercalados com o concorrente anterior. A ideia seria levar o carro até final – pois já tinhamos chegado ali… mas o Zé decidiu fazer mais. Confiando piamente nas notas (ai a minha vida) atacou. E as coisas não estavam a correr bem: chuva, vidros embaciados – estive alguns quilómetros a cantar notas cegamente, passagens pelos charcos de água à campeão, numa delas com o carro a afogar… Na última recta, quase em aquaplaning foi uma sensação de alívio. A prova estava acabada.
Faltava saber o resultado – não existiam tempos online, portanto decidimos passar pelo Secretariado. Surpreendentemente, ou não, ficamos na sétima posição… Mas depois reparamos que a duas décimas do sexto (Pedro Leone com o Ford protótipo) – posteriormente nos resultados oficiais foram seis décimos [apareceram no nevoeiro de Martinlongo). Mais e melhor, só o quarto lugar à geral na última especial do rali, a apenas 17 segundos do vencedor – o Bruno com o Subaru, foi quase “a cereja em cima do bolo”. O resultado era positivo, e tendo em conta as condições em que foi obtido, torna-se muito valorizado.
Quanto à experiência em sí – foi a primeira vez que andei num 4x4 em prova – um autêntico “tanque de guerra”, aguentava tudo, e passava em qualquer zona sem pedir licença, e muito importante, não deu problemas. O Zé, foi sempre um bom companheiro e de forma evolutiva, também me surpreendeu não só pela maneira de encarar a prova, mas também pelo espírito competitivo que demonstrou. Pela primeira vez acabo uma prova de terra, ou melhor…de lama, e passados dois anos, ainda consigo gritar ATENÇÃO a plenos pulmões.
Os agradecimentos ao Zé Correia pelo convite e ao Márcio pela atitude positiva e apoio. Como não quero esquecer ninguém, deixo agradeço a toda a comitiva que participou nesta prova, e aqueles que directa ou indirectamente permitiram que decorresse normalmente.
Uma palavrinha final ao João Luz, que a atravessar uma fase menos positiva, não deixou de comparecer nos troços de Martinlongo para demonstrar o seu apoio aos presentes. Mesmo quando as coisas não correm bem, demonstra o espírito de um verdadeiro e grande CAMPEÃO.
Foi mais uma prova inesquécivel.
PS: A crónica da prova do Jornal “Motor” está demais. Os implacáveis…
1 comentário:
Os meus parabéns "invejosos". Ao ler esta crónica voltei a sentir aquelas suadades de voltar a "ralizar".
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