terça-feira, dezembro 7

JOSÉ MARTINS: Desde criança que queria ser Piloto...

Desde criança que queria ser Piloto, mas como o custo dos Ralis em Portugal é proibitivo para a maior parte dos portugueses, a solução para entrar no mundo dos Ralis foi começar como Navegador.

Assim sendo a partir do momento em que um amigo reuniu as condições necessárias para começar a correr foi de um modo natural que me sentei no banco do lado direito.

Isto de ser Navegador é um gosto que se aprende, mais ainda quando se anda em bons carros e se discutem vitórias e campeonatos, mas o ser Piloto está sempre no subconsciente da maior parte dos Navegadores.

Eu não fui excepção e com a minha vinda para o Algarve por razões profissionais acabei por competir nos Slalons, primeiro com um 5 GT Turbo alugado e depois com o Saxo, para além de ser Navegador no Campeonato Regional Sul de Ralis.

E assim foi, 19 anos depois de começar nos Ralis sentei-me finalmente ao volante numa prova cuja "aventura" passo a relatar:

Começamos pelos treinos que correram bem apesar do Rui Coimbra se sentir um pouco enjoado no fim do troço de 17 km quando tiramos as notas, depois fomos tratar das verificações onde o Saxo levou o seu primeiro selo de verificado (uma estreia também para o carro).
Devo referir que foi complicado mudar o "chip" de Navegador para Piloto, onde nas pequenas coisas notava a diferença como procurar o cronómetro e lembrar-me que o Rui é que o tinha, colocar o capacete no banco do pendura, ou ainda ter que usar luvas de competição, mas pior era algum nervosismo pela razão de estar perto de concretizar o meu sonho de miúdo.

O meu carro é um Citroen Saxo Cup que comprei com 160.000 km em que montei um roll bar da OMP, corta corrente, um extintor, fechos de capot, um escape, duas baquets e cintos, um suporte do pneu suplente, um volante, uma gambiarra, cuja "preparação" é o motor com uma admissão troféu, travagem com discos de série com umas pastilhas e óleo de competição, tubos de travões metálicos, travão de mão hidráulico, repartidor de travagem, caixa de série (longa.......) e a suspensão de série com umas molas mais baixas.

Como era o número mais alto do Rali fui o primeiro a partir para a Super Especial a seguir aos zeros, e aí pela primeira vez na minha carreira nos Ralis fiquei nervoso ao ponto de me esquecer de ligar os máximos e os suplementares (os originais do carro, claro...) e arranquei, após a primeira rotunda tínhamos uma recta com uma esquerda a seguir onde eu entrei com pneus frios e muito confiança, pois tinha de atacar (porque a Super Especial não deixa de ser um Slalom), a aí dei uma traseirada enorme direito a um poste e pensei que ficava já ali, felizmente não tirei pé e lá agarrei o carro mas a partir daí fui devagar pois para susto já chegava, e depois não via nada somente com os médios ligados e ainda por cima começou a chover. Mesmo assim ainda ficaram atrás de mim alguns (amigos) adversários.

Domingo de manhã, estrada molhada e eu com Fedima intermédios com meio uso que já tinham sido do Augusto Páscoa, lá fomos para o primeiro troço onde entrei com todas as cautelas onde não "inventei" nada e que correu sem sustos, a seguir fomos para o troço grande com 17 Km onde comecei novamente devagar até porque pouco depois após o começo estava um amigo concorrente fora de estrada, deste modo aonde não estava sujo tentei andar mais um pouco e comecei a perceber até onde podia ir na (pouca) aderência do carro.

Qual foi o nosso espanto no parque de assistência quando verificamos que estávamos em segundo dos extras e em primeiro do grupo N após a saída de estrada do Filipe Cristóvão e do furo do Vasco Tintim, estando o Vitor Torres no Escort MK1 em primeiro e o Jean Marie Grenier no 131 Abarth muito próximo atrás de nós, e fomos para a segunda ronde.

A confiança já era outra e andamos mais depressa, e foi no troço pequeno que finalmente comecei a sentir o que é guiar um carro de Rali, desde o ir a fundo até uma travagem, a velocidade (cheguei a dar 160 km em troço), o escorregar do carro e o aproveitar da estrada toda, e principalmente ouvir e fazer o que está nas notas, o prazer de estar ao volante foi extraordinário e o gozo que me deu foi enorme e acabamos por efectuar um tempo "simpático" para mim e para o Saxo.

Por fim no troço grande andamos novamente mais depressa mas com a cabeça no chegar ao fim, ainda mais porque continuamos a encontrar vários carros fora de estrada o que nos refreou o entusiasmo. Na chegada a sensação foi de dever cumprido, e ainda por cima com um bom resultado e duas taças (2º da geral Extra e vencedor do Grupo N), sendo de salientar que estivéssemos incluídos no Regional ficávamos no 14º lugar na geral e primeiro da classe 1 até 1600.

Neste momento os meus pensamentos são vários sobre a experiência, mas definitivamente passei a valorizar ainda mais o papel dos Navegadores, senti quanto importante é o seu papel dentro de um carro em que no caso do ritmo e da confiança são fundamentais, mas o principal que eu aprendi nesta aventura foi a sentido de responsabilidade de um Piloto levar alguém ao seu lado num troço de Rali, alguém que tem de confiar no condutor e que arrisca a sua integridade física tanto como o Piloto em nome do desporto que nós gostamos.

Por fim tenho de agradecer ao Rui Coimbra por ter tido a "coragem" de ter ido ao meu lado, por nunca me ter travado e pelo que me ajudou, ao Team Laureate pelo muito que trabalharam no carro para o por em condições para correr, e aos muitos amigos que me incentivaram nesta aventura e que tornaram ainda mais especial esta participação.

Agora tenho um problema... apanhei o gosto de guiar e tenho o Saxo, e já me comprometi com o Rui Coimbra como Navegador para 2011 novamente com o Golf GTI (desta vez com um motor 2.0 16V), deste modo se calhar para o ano tenho de ir fazer uma ou duas provas de asfalto no Open para em 2012 passar a Piloto no Regional Sul.

Saudações desportivas,

José Martins

Publicado no Ralis.Online

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