Foi com alguma surpresa que a 18 horas do inicio da edição de 2008 do Lisboa Dakar a organização, a cargo dos fraceses da A.S.O., decidiu cancelar a prova. Um autêntico “balde de água fria” caiu sobre Lisboa, onde já decorriam verificações técnicas e toda a comitiva, com mais de 2500 participantes, já estava reunida.
A explicação sobre a decisão recai sobre a possibilidade de atentados terroristas à caravana do Dakar. Algumas informações de elementos ligados ao governo francês informaram que existia grande possibilidade de ataques terroristas movidas por elementos islamitas ligados à Al Qaeda. Aparentemente nos últimos dias tinham ocorrido movimentações de extremistas para a Mauritânia com o intuito de atacar a caravana do Dakar. O Governo francês já havia recomendado aos elementos franceses que não participassem na prova, pois a sua segurança estava em risco. As preocupações tomaram porporção real quando uma família francesa, constítuida por quatro elementos, foi assassinada na Mauritânia na véspera de Natal. Relembro que as dunas características do Dakar situam-se no deserto mauritano, em que normalmente se decide o Dakar com a disputa de 7 etapas em 8 dias.
Durante a última noite os organizadores estiveram em reunião com elementos ligados ao governo francês que os informaram dos riscos inerentes. A principal razão que motivou a anulação prende-se com as seguradoras que avisaram não estarem dispostas a suportar encargos mediante algum ataque terrorista. Curiosamente um dia antes já existiam rumores que a saída da caravana poderia não ser do Centro Cultural de Belém, por questões de segurança, exisitindo alguns receios de atentado.
Foi com enorme consternação que a notícia foi recebida pelos concorrentes. Em poucas horas o sonho de um ano de trabalho caiu por “água abaixo”. Esta decisão caiu como um autêntico desastre sobre as aspirações e finanças dos concorrentes, e também afecta os elementos ligados à organização, assim como os espectadores que já se preparavam para mais dois dias de festa por terras lusas, no caso dos portugueses.
As consequências financeiras são incalculáveis, pois são muitos milhões de euros perdidos, das mais diversas formas. Desde o investimento de concorrentes, patrocinadores, organizadores, governo português, câmaras municipais e mesmo alguns espectadores. Mesmo com a garantia de retorno do preço da inscrição, toda a logística inerente a esta prova encarga custos elevados que não terão reembolso. A título exemplar, um concorrente de automóveis necessitaria de pelo menos 150.000 euros para disputar a prova.
A revolta instala-se por todos aqueles que vêem o sonho tornar-se em pesadelo. Como justificar o investimento aos patrocinadores, e mesmo rebater alguns empréstimos bancários sem sequer participar no evento. São ínumeras questões que se apresentam: Se não fossem franceses os visados, a corrida avançaria? Existiriam outros interesses nesta anulação? Em anos anteriores depararam-se situações semelhantes mas haviam soluções, porque não arranjar alternativa? Se a Mauritânia não é um local seguro agora, quando o será? Alguns concorrentes dizem que é preferível mudar de lugar, apontando Ásia e América Central como possibilidades, perdendo a prova identidade? Que credibilidade terá a A.S.O. em eventuais organizações? Quem pagará ao Estado e às Câmaras Municipais o investimento efectuado? Que empresas querem o nome associdade a fiascos? Quais as consequências a médio / longo prazo desta decisão? Existirá futuro para o Dakar? Estas e outras questões são colocadas por todos aqueles que ansiavam a prova.
A prova este ano começará com o pé-esquerdo. A equipa de João Lagos - Lagos Sport, havia decidido mudar a localização da primeira especial para a zona de Alcochete, com centro nevrálgico em Benavente. Para além de mostrar versetalidade e diversidade no traçado, uma outra razão para a mudança veio ao de cima – o comportamento do público. No ano passado, o público preencheu por completo os campos entre Grândola e Alcacér do Sal. Fazendo relembrar os tempos do Rali de Portugal nos anos 80, com autênticas enchentes, foi um ponto negativo apontado no relatório dos observadores oficiais, e também criticado por muitos concorrentes. A organização optou por um traçado com uma especial em dois terrenos privados, com acessos proibidos, disponibilizando autocarros gratuitos para quem quizesse assitir à prova em zonas espectáculo previamente estipuladas. Apontando para um número na casa dos 100.000 espectadores, não seria fácil “anular” o meio milhão de pessoas que assistiu à primeira etapa no ano passado. A atitude da Lagos Sport foi muito criticada, e com certeza enfrentaria alguns problemas com o público, esquecendo que também é parte integrante da festa e sem ele não existe grande significado a passagem dos concorrentes.
Quanto à segunda etapa, era em tudo semelhante à do ano passado, mas já contava com um investimento na ordem do milhão e meio de euros por parte da Câmara Municipal de Portimão, que a par com Benavente (30.000 euros) reclamam indeminização.
De forma incrédula toda a sociedade assistiu a um “atentado invisível” da Al Qaeda, e por muito que custe a admitir, os terroristas venceram mais uma batalha, e fizeram impôr o seu extremismo. Estaremos preparados para viver sobre ameaça e medo?
30 anos depois, o Dakar parou.
Sem comentários:
Enviar um comentário