O primeiro dia do Rali de Portugal era marcado pelas passagens nos troços de Loulé, Vascão e São Brás. Como devemos sempre começar pelo início, a escolha para acompanhar a “caravana” recaiu no troço de Loulé, propriamente próximo da Z.E. 2, ao pé da lixeira da Cortelha. A companhia cinco estrelas, sempre cheia de boa disposição, mas o cheiro. Aquilo entranhava nos poros, que o mínimo eram dores de cabeças. Mas lá ensinava o outro, que ao fim de algum tempo começa a passar despercebido.
Não existia muito público, mas os que apareciam eram dos bons, ou seja, malta que conhece o local, e sabe que têm uma boa panorâmica, onde é possível acompanhar as viaturas num bom espaço de tempo. A primeira especial arrancou, e uma pequena desilusão: Marcus Gronholm não “abanava a barca”. A dupla de cunhados finlandesa mais parecia preocupada em andar para a frente do que brindar o público com algum espectáculo. Veículo de segurança tem função mas com WRC é diferente, para mais quando é figura de cartaz. Avançando…
O grande número de concorrentes passíveis de efectuar um rali interessante, promoveu uma luta ao segundo. Alguns passaram de forma espectacular, com uma exuberância, e lutando contra o cronómetro, que até dava gosto. Mas como previa, a fiabilidade destas viaturas não é elevada, e as primeiras vítimas apareceram. Armindo Araújo passara com o motor a falhar, e abandonou metros à frente, embora a causa tenha sido o turbo. Pior, Anton Alen com problemas de transmissão quase nem “aqueceu”. Dani Solá também tinha prestação muito fraca, perdendo muito tempo dos concorrentes da frente. Aproveitando tirava alguns tempos parciais, e comparava-os com os tempos finais transmitidos pela Antena 3 – rádio oficial. Impressionante a luta entre os homens da frente, ao segundo: Vouilloz, Rossetti, Duval, Bruno Magalhães, Basso, Loix, Kopecky, Stohl, todos muito próximos. O espectacúlo foi deixado para Didier Auriol, que mandava-se para as curvas e atravessava o Punto de maneira espectacular – vem da escola dos Grupo A, que andava todos atravessados. As prestações negativas ficam para Marco Cavigioli num Punto diesel, que perdia muito tempo e prejudicou o concorrente que o precedia (Pedro Leal), e aos S2000 portugueses – José Pedro Fontes, Nuno Barroso Pereira e Vitor Pascoal, que tinham exibições muito modestas, que mesmo sem problemas, eram suplantados pela concorrência directa.
O acompanhamento da prova efectuado pelo rádio dava conta da grande competitividade. A passagem de Bruno Magalhães para a liderança foi a notícia do momento, mas o despiste na especial seguinte que o fez perder mais de 3 minutos, foi o “balde de água fria”. A esperança de uma vitória portuguesa ficou por ai: Armindo desistiu, Bruno atrasou e Miguel Campos não conseguiu acompanhar os demais S2000. Por outro lado, a surpresa veio da Madeira. Com todos os azares da concorrência, e com mérito, Bernardo Sousa chegava a melhor português, e calava alguns críticos que agoiravam a saída de Carlos Magalhães.
A segunda passagem na Cortelha veio acompanhada pela chuva. Depois do pó, a chuva para assentar no casaquinho, no cabelo, na pele: Rali sem “comer” pó e chuva, não é rali. Já com algumas baixas no pelotão, Duval aproveitou-se do tempo seco (passou antes de começar a chover) para recuperar algum tempo. Simon Jean-Joseph apesar de conduzir um pequeno C2 R2 Max dava espectáculo e liderava os 2WD. Completamente endiabrado, Freddy Loix foi azarado, pois quando à entrada da curva da lixeira, furou, e quase instantaneamente o pneu separou-se da roda. Parou logo à frente, quando estava a fazer um bom tempo (foi definitivo este furo, pois abandonou na especial seguinte devido a outro furo, pois não tinha mais pneus – levou apenas 1 suplente). Rossetti passou à campeão, pois entrou pela parte de fora e jogou-se para dentro da curva, aliando a rapidez ao espectáculo (e sempre sem furar). Mas, o Nicolas Vouilloz não quis ficar atrás, e repetiu a dose. Para variar o homem do espectáculo – Didier Auriol (afinal valeu a pena convidá-lo, pois para além do espectáculo até andou muito depressa).
Depois da especial, tempo de regressar a Faro. Ou não, à passagem das Bicas, apesar do traçado com mau piso, seguimos um grupo de viaturas, e fomos dar com a ZE 3 da última especial do dia: São Brás. Apesar do acesso complicado, estavam alguns espectadores, entre eles a Auto Estelinha estava em força. A luta pela liderança estava ao rubro entre Rossetti e Vouilloz, que passaram no mesmo segundo, com o francês a levantar o pé, com o intuito de sair atrás para o último dia (estratégia do mundial). A sequência de curvas até era conhecida do regional, mas com aquela malta do IRC e Nacional era muito espectacular. José Pedro Fontes passou furado, apenas mais um azar a juntar a tantos outros: furos, problemas mecânicos, eixo traseiro partido, enfim, mais um calvário do piloto da Fiat Vodafone. Estranhamente, Bernardo Sousa teimava em não aparecer, e pensou-se no pior – “Abraçado a uma árvore”. Passou depois, a ritmo lento. A causa de lentidão: pás da ventoinha partidas, e radiador avariado. Razão: entrada numa ribeira à campeão. Efeito: Sobreaquecimento do motor. Resultado: Perdeu o lugar de melhor português, e pior abandonou após a especial, quando apenas faltava a ligação ao Parque de Assistência. Pedro Leal também foi azarado, pois passou no local em bom ritmo, mas viria a desistir à frente, devido a um toque ter danificado a suspensão dianteira. Fernando Peres também passou muito lentamente, vítima de furo.
Passamos pelo Parque de Assistência, e com cartão VIP (deixei de ser povão por instantes) percorri as zonas das equipas. Numa delas Rossetti (o líder) era entrevistado para a Eurosport. Enquanto esperavamos entregaram um cartão da equipa, e “validamos” com um autografo do italiano. Simpático, ainda trocou umas palavras, mediante algumas perguntas, gracejando sobre o facto de abrir os troço: “Seguimos o trilho do Gronholm”. Outro momento digno de destaque, foi quando cruzamos com Markku Alen. A lenda do Rali de Portugal estava na Abarth, acompanhando a prova do filho.
Depois de uma passagem pelas diferentes assistências e stands, e algumas animadas trocas de palavras com alguns conhecidos, era tempo de recolher a casa.
Amanha de manhã há mais do mesmo.
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