Emanuel Pereira e Américo Campos são, indiscutivelmente, dois dos melhores pilotos madeirenses de ralis de todos os tempos. Embora de gerações diferentes, chegaram a competir juntos, numa altura em que as provas de automobilismo e muito em particular o Rali Vinho da Madeira tinham contornos diferentes dos actuais.
Emanuel Pereira fez a sua primeira Volta à Madeira em Automóvel em 1975, com 19 anos... como co-piloto de Hernani Roda. É verdade, as quatro primeiras 'voltas' foram realizadas a 'cantar' notas, três ao lado de Roda, a outra com Abel Spínola.
"Aprendi imenso com o Roda, não só ao nível das trajectórias, mas também nas travagens, porque ele era o piloto da época que travava mais tarde", realça Emanuel Pereira. Desses tempos recorda "o martírio que era andar nas estradas empedradas da Madeira com um Mini Cooper S". E até fazer o troço dos Terreiros ainda em terra. Ao fim da segunda noite, relembra, "já não havia posição possível para nos sentarmos no banco".
"Imagine-se o que era passar pelo Porto Moniz, olhar para a placa que indicava 'Funchal - 100 kms' e saber que depois de percorrermos essa distância, ainda teríamos de voltar a fazer o mesmo percurso pelas três da manhã", recorda com piada.
Ao volante, a primeira participação do piloto do Santo da Serra aconteceu em 1979, num Ford Escort 1.600. Desistiu, mas no ano seguinte, com um Escort RS 2.000, cometeu a proeza de ser o segundo melhor madeirense, somente superado por Carlos Reis e pelo Alpine A110.
A vitória que não valeu
Daí para cá foram inúmeras participações (cerca de 25, entre piloto e navegador), as mais marcantes com o Renault 5 GT Turbo do Team Bingo. "Chegámos a fazer 6.ºs e 7.ºs tempos em classificativas, no meio dos Lancia de alguns pilotos estrangeiros, e com menos de metade da potência no carro", lembra. Aliás, vinca Emanuel Pereira, "sempre me deu um gozo enorme ganhar ralis com carros inferiores aos adversários".
Numa dessas participações com o Renault 5 GT Turbo, em 1988, Emanuel Pereira conseguiu mesmo terminar no primeiro lugar do agrupamento Produção. Só que o piloto foi desclassificado, devido a irregularidades no carro. Ainda hoje, essa desclassificação lhe está 'atravessada'. "Éramos madeirenses, se fossemos estrangeiros a história era diferente", refere, sem querer levantar mais 'poeira'. Mesmo assim fica o consolo de ter sido "o melhor na estrada".
Anos depois, em 1994, com o Ford Sierra Cosworth, Emanuel Pereira obtém a classificação de melhor madeirense, à qual junto um excelente quinto lugar na classificação geral.
"Foi um rali onde tivemos um problema eléctrico, causado por um simples cabo de massa, e que nos obrigou a mudar três ou quatro vezes de bateria", explica, lembrando que, à conta disso, perdeu cerca de um minuto para Miguel Sousa, que tripulava um carro idêntico. Contudo, fruto de uma recuperação espectacular e após "uma luta enorme com o Miguel, acabámos por ganhar por apenas dois segundos".
Muitos anos passados desde o seu último rali, Emanuel Pereira garante que ainda 'não arrumou as luvas'. "Penso ainda fazer um ou outro rali, quando deixar as minhas funções no 100 à Hora, e de preferência o Rali Vinho da Madeira", expressa.
Quatro vezes melhor madeirense
Vivia Américo Campos em Oslo, na Noruega, quando decidiu participar pela primeira vez no Rali Vinho da Madeira. Estávamos em 1988 e a escolha recaiu num Renault 5 GT Turbo, alugado a uma equipa continental. No primeiro rali de toda a sua carreira, Campos acabou por desistir no segundo dia de prova. "Ficámos parados junto à Nossa Senhora do Terreiro da Luta com um problema do carro", recorda.
No ano seguinte, com um outro Renault 5 GT Turbo, alugado a outra equipa e com uma preparação mais cuidada, classifica-se como o segundo melhor madeirense, atrás de Rui Fernandes. "Pouca gente sabe que esse foi o segundo rali em que participei na minha carreira", vinca.
A partir daí foram mais dez participações na prova rainha dos ralis madeirenses, com vários resultados importantes: Américo Campos cotou-se como o melhor português em 1991, com o Volkswagen Golf GTi, juntando a isso mais três primeiros lugares entre as equipas da Madeira (93, 95 e 97).
O sucesso de 1991 é mesmo o que melhores recordações deixa ao ex-piloto. "Com a desistência do Fernando Peres, a meio do dia de sábado, passei a ser o melhor português e, com o 'velhinho' Volkswagen Golf cheguei a andar em terceiro da geral, à frente do Liatti", lembra. No final, Campos acabou por ser ultrapassado pelo italiano e também pelo peruano Ramon Ferreyros, mas mesmo assim o quinto lugar foi "um resultado prestigiante"
Contudo, reforça, todos os outros resultados de melhor madeirense "tiveram um sabor especial e diferente, porque as lutas eram sempre diferentes e aliciantes".
Américo Campos ainda apanhou classificativas em piso empedrado, designadamente Encumeada, Chão da Lagoa e Paul da Serra. "O que exigia uma condução um pouco diferente daquela que se faz em bom piso de asfalto, como sucede hoje em dia", refere Américo Campos, que ainda se lembra de chegar ao Funchal "noite dentro" e ter pouco tempo de descanso pela frente, porque o arranque para a última etapa acontecia manhã bem cedo.
Mas a maior mudança que o tri-campeão regional mais faz notar, em comparação com os tempos actuais, é a segurança. "Tudo o que se fez em termos de mudança, tem um padrão: aumentar a segurança."
Nesse particular, lembra que, então, as assistências eram feitas "numa correria infernal", quase que se podendo falar "de um rali à parte entre as próprias carrinhas de assistência". Muitas vezes, "pondo em perigo a segurança de quem andava na estrada" e "com alguns acidentes de monta", regista.
Américo Campos fez o seu último Rali Vinho da Madeira em 2002, mas o 'bichinho' mantém-se latente. "Claro que penso voltar a fazer um a prova", assume, embora não exista nada pensado a esse respeito. Enquanto não chega o momento certo para o regresso, Américo Campos vai colaborando com a organização, ora guiando um dos carros de segurança, ora colaborando na cerimónia de apresentação no pódio - como voltará a suceder este ano.
Artigo Diário de Notícias da Madeira
"Aprendi imenso com o Roda, não só ao nível das trajectórias, mas também nas travagens, porque ele era o piloto da época que travava mais tarde", realça Emanuel Pereira. Desses tempos recorda "o martírio que era andar nas estradas empedradas da Madeira com um Mini Cooper S". E até fazer o troço dos Terreiros ainda em terra. Ao fim da segunda noite, relembra, "já não havia posição possível para nos sentarmos no banco".
"Imagine-se o que era passar pelo Porto Moniz, olhar para a placa que indicava 'Funchal - 100 kms' e saber que depois de percorrermos essa distância, ainda teríamos de voltar a fazer o mesmo percurso pelas três da manhã", recorda com piada.
Ao volante, a primeira participação do piloto do Santo da Serra aconteceu em 1979, num Ford Escort 1.600. Desistiu, mas no ano seguinte, com um Escort RS 2.000, cometeu a proeza de ser o segundo melhor madeirense, somente superado por Carlos Reis e pelo Alpine A110.
A vitória que não valeu
Daí para cá foram inúmeras participações (cerca de 25, entre piloto e navegador), as mais marcantes com o Renault 5 GT Turbo do Team Bingo. "Chegámos a fazer 6.ºs e 7.ºs tempos em classificativas, no meio dos Lancia de alguns pilotos estrangeiros, e com menos de metade da potência no carro", lembra. Aliás, vinca Emanuel Pereira, "sempre me deu um gozo enorme ganhar ralis com carros inferiores aos adversários".
Numa dessas participações com o Renault 5 GT Turbo, em 1988, Emanuel Pereira conseguiu mesmo terminar no primeiro lugar do agrupamento Produção. Só que o piloto foi desclassificado, devido a irregularidades no carro. Ainda hoje, essa desclassificação lhe está 'atravessada'. "Éramos madeirenses, se fossemos estrangeiros a história era diferente", refere, sem querer levantar mais 'poeira'. Mesmo assim fica o consolo de ter sido "o melhor na estrada".
Anos depois, em 1994, com o Ford Sierra Cosworth, Emanuel Pereira obtém a classificação de melhor madeirense, à qual junto um excelente quinto lugar na classificação geral.
"Foi um rali onde tivemos um problema eléctrico, causado por um simples cabo de massa, e que nos obrigou a mudar três ou quatro vezes de bateria", explica, lembrando que, à conta disso, perdeu cerca de um minuto para Miguel Sousa, que tripulava um carro idêntico. Contudo, fruto de uma recuperação espectacular e após "uma luta enorme com o Miguel, acabámos por ganhar por apenas dois segundos".
Muitos anos passados desde o seu último rali, Emanuel Pereira garante que ainda 'não arrumou as luvas'. "Penso ainda fazer um ou outro rali, quando deixar as minhas funções no 100 à Hora, e de preferência o Rali Vinho da Madeira", expressa.
Quatro vezes melhor madeirense
Vivia Américo Campos em Oslo, na Noruega, quando decidiu participar pela primeira vez no Rali Vinho da Madeira. Estávamos em 1988 e a escolha recaiu num Renault 5 GT Turbo, alugado a uma equipa continental. No primeiro rali de toda a sua carreira, Campos acabou por desistir no segundo dia de prova. "Ficámos parados junto à Nossa Senhora do Terreiro da Luta com um problema do carro", recorda.
No ano seguinte, com um outro Renault 5 GT Turbo, alugado a outra equipa e com uma preparação mais cuidada, classifica-se como o segundo melhor madeirense, atrás de Rui Fernandes. "Pouca gente sabe que esse foi o segundo rali em que participei na minha carreira", vinca.
A partir daí foram mais dez participações na prova rainha dos ralis madeirenses, com vários resultados importantes: Américo Campos cotou-se como o melhor português em 1991, com o Volkswagen Golf GTi, juntando a isso mais três primeiros lugares entre as equipas da Madeira (93, 95 e 97).
O sucesso de 1991 é mesmo o que melhores recordações deixa ao ex-piloto. "Com a desistência do Fernando Peres, a meio do dia de sábado, passei a ser o melhor português e, com o 'velhinho' Volkswagen Golf cheguei a andar em terceiro da geral, à frente do Liatti", lembra. No final, Campos acabou por ser ultrapassado pelo italiano e também pelo peruano Ramon Ferreyros, mas mesmo assim o quinto lugar foi "um resultado prestigiante"
Contudo, reforça, todos os outros resultados de melhor madeirense "tiveram um sabor especial e diferente, porque as lutas eram sempre diferentes e aliciantes".
Américo Campos ainda apanhou classificativas em piso empedrado, designadamente Encumeada, Chão da Lagoa e Paul da Serra. "O que exigia uma condução um pouco diferente daquela que se faz em bom piso de asfalto, como sucede hoje em dia", refere Américo Campos, que ainda se lembra de chegar ao Funchal "noite dentro" e ter pouco tempo de descanso pela frente, porque o arranque para a última etapa acontecia manhã bem cedo.
Mas a maior mudança que o tri-campeão regional mais faz notar, em comparação com os tempos actuais, é a segurança. "Tudo o que se fez em termos de mudança, tem um padrão: aumentar a segurança."
Nesse particular, lembra que, então, as assistências eram feitas "numa correria infernal", quase que se podendo falar "de um rali à parte entre as próprias carrinhas de assistência". Muitas vezes, "pondo em perigo a segurança de quem andava na estrada" e "com alguns acidentes de monta", regista.
Américo Campos fez o seu último Rali Vinho da Madeira em 2002, mas o 'bichinho' mantém-se latente. "Claro que penso voltar a fazer um a prova", assume, embora não exista nada pensado a esse respeito. Enquanto não chega o momento certo para o regresso, Américo Campos vai colaborando com a organização, ora guiando um dos carros de segurança, ora colaborando na cerimónia de apresentação no pódio - como voltará a suceder este ano.
Artigo Diário de Notícias da Madeira
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